21 de mai. de 2012

Bruno Paulino, membro do IPHANAQ e do Ponto de Cultura lança livro de crônicas

O estudante de Letras, membro do IPHANAQ e do Ponto de Cultura, Bruno Paulino, lançou no último sábado seu livro de crônicasLá nas Marinheiras e outras crônicas. Abaixo, publicamos o texto de apresentação do livro, escrito pelo professor e poeta Rodrigo Marques.

Um cronista entre Marinheiras e Nova Iorque

O livro de estreia de Bruno Paulino, intitulado Lá nas Marinheiras e outras crônicas, encena, no seu conjunto, umtema muito caro aos escritores, sobretudo para aqueles que se dedicam a escrita de crônicas, a saber, a passagem do tempoe sua relação com o espaço.
A cidade de Quixeramobim é o cenário, o palco, o público, os atores e as atrizes de um narrador dividido entre umacidade interiorana, quase mítica, distante, charmosa, cantada em verso e prosa pelos mais velhos, pelos livros e pelascanções, e uma Quixeramobim contemporânea, com os problemas sociais, econômicos e psicológicos de uma urbes emdesenvolvimento, aberta à industrialização e às mudanças bruscas de sentido.
A linguagem simples e escorreita de Bruno Paulino, na realidade, esconde o conflito de um cronista provinciano que já não acredita tanto na solidez e na continuidade da memória, do imaginário, dos hábitos e dos costumes desta mesma província. Como o narrador vive este conflito e por Bruno saber que a literatura não intenta resolver nada, a fatura das crônicas tende a não cair nem num saudosismo piegas e elogioso ao tempo passado, nem numa propaganda do futuro. Este equilíbrio, movido por aquela tensão, é essencial para tornar o livro de Bruno um livro maduro, sem ingenuidades, embora, aqui, acolá, o “cronista da província” vença e exalte a Quixeramobim que não existe mais ou que, de fato, nunca existiu: “E de repente me dou conta que eu nasci num mundo assim bem louco, cheio de tecnologia e facilidades (e desigualdades também), pois quando me entendi por gente, o sertão já não era realmente o mesmo daqueles que diziam “olhe, na minha época não era assim...”.
De certo modo, a expectativa de um leitor que se depara na estante com o livro Lá nas marinheiras e outrascrônicas, publicado por um autor quixeramobiniense ou quixeamobiniano (não sei), é, possivelmente, encontrar um livrode “coisas do sertão”, com personagens caricatos, em situações pitorescas, rodando numa cidade cheia de improvisos.Como falei, a expectativa é em parte frustrada, pois logo na primeira crônica, a que dá título ao volume, o narradorconfessa nunca ter matado passarinhos, de ser ruim de pontaria, embora seu pai fosse exímio atirador de baladeira, paradaí citar Mário Quintana, Fausto Nilo e a obra de Cândido Portinari. Aliás, o livro é recheado de referências a uma culturaletrada e metropolitana, são inúmeras as citações ao repertório da música popular brasileira e a autores da literaturaocidental, porém também são inúmeras as referências a figuras e pensamentos de poetas populares ou de figuras do povo,como Quintino Cunha, Dona Carminha e um tal Carro Velho (o rei dos elogios), “um sujeito arcaico-saudosista-tecnológico subjetivamente qualificado”.
Este conflito temporal, sentido por um narrador sensível que ainda se regojiza com a sombra de um pé de cajá,também perpassa a linguagem do cronista. Aqui, está, talvez, a encenação maior das contradições por que passa apersona criado por Bruno Paulino. Como, no nível da linguagem, equilibrar o lirismo próprio das recordações idílicascom o niilismo contemporâneo? Principalmente nas crônicas familiares a linguagem não escapa de certo travoromântico: “Essa é a historia de meus avós paternos, com a espontaneidade de uma conversa de alpendre meu pai anarrou para mim num fim de tarde, norteando-se por juazeiros, no ritmo dos riachos, percorrendo brenhas, procurandorastros nos caminhos e nas veredas da memória, como se a historia tivesse ali - posta em colcha de retalhos - e pudesseser manipulada por suas palavras. E assim foi”. Por outro lado, a graça do livro está nesta liberdade em trabalhar o local ea expectativa local com desconfiança.
Ao lado desta tensão, o livro gera também interesse por trazer recortes da história de Quixeramobim, como ascheias, a vinda de Manuel Bandeira para se tratar de tuberculose, a visita recente de Ariano Suassuna à cidade, os seteanos de estadia do poeta e rábula Quintino Cunha, além da valorização da zona rural, como o poço Marinheiras e a Serrado Cruzeiro. Em tempos em que a memória está cada vez mais curta e as pessoas não têm mais tanta paciência de ouvirumas as outras, o livro de Bruno resiste: “Das historias, uma contadora, Dona Carminha também discute e opina sobrecoisa séria como preservação do patrimônio histórico de nossa cidade, incluindo o recente caso da demolição do prédio daantiga farmácia localizada no centro da cidade, deixa sua sabia opinião: “Eu era menina já conhecia a Farmácia SãoPedro daquele jeito, o que dinheiro num faz né?” E ri, em compaixão, dos que produzem monumentos de concretos, em vezde castelos de memórias onde se erguem verdadeiras fortalezas de amor ao próximo, esculpidas delicadamente por almassuaves como a de Dona Carminha”.
Dizem que um escritor só se torna escritor a partir do segundo livro, porque é sinal de que ele não desistiu. Se Brunoinsistir (como ele deve e eu acredito) o seu maior desafio será aprofundar estas contradições no nível da linguagem, torná-la mais visceral, contundente, irônica, dúbia, pois ele tem nas mãos, além do talento, um foco muito interessante para setrabalhar, mas isto só o Tempo (Cronos) poderá devorá-lo.
Para concluir, gostaria ainda de dizer ao meu amigo Bruno Paulino que só temos a agradecer por esta dedicaçãodele à leitura e à escritura, porque muito nos honra ter sido seu professor na FECLESC. Infelizmente não pude estar aí paralhe dar um abraço de verdade, daqueles que quebra duas ou três costelas. Mas fica a menção.


Rodrigo MARQUES.

poeta e doutorando em literatura pela UFC.

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