4 de mar. de 2013

Confira os últimos artigos do Prof. Marcos Diniz (história-FECLESC-UECE) no Diário do Nordeste

Doa a quem doer


Nesses últimos anos em que gradativamente retornamos ao Estado de direito, às liberdades democráticas e à complexa independência dos poderes, vemos quão incomodados ficam os governantes acostumados aos atos arbitrários, ao poder personalista e patrimonialista, como ao ranço político elitista que amesquinha e imbeciliza o povo. Nessa situação, a insistência dos cidadãos na crítica política, as cobranças e investigações do Ministério Público, da imprensa, de servidores públicos e de organizações da sociedade civil às condutas e obras do Executivo, acabam por provocar reações no mínimo atentatórias à democracia.

Dois casos bem atuais o exemplificam. Em primeiro lugar, temos a negativa do Tribunal de Justiça do Estado à ação do Ministério Público Estadual exigindo a retirada de nomes de pessoas vivas de diversos órgãos públicos de Sobral, alguns deles de parentes do governador Cid Gomes, por infração ao art. 37 da Constituição, que trata da impessoalidade das ações públicas.

No segundo, o Ministério Público Estadual questionou o valor do cachê R$ 650 mil a ser pago à cantora Ivete Sangalo, por sua apresentação na inauguração de um hospital em Sobral. O Tribunal de Contas do Estado arquivou o questionamento. Em seguida, o governador disse que vai continuar promovendo essas festas, "doa a quem doer". Em ambos os casos, nota-se uma harmonização de interesses entre os tribunais estaduais e o governador - além da maioria na AL -, assegurando-lhe mando absoluto e liberdade para o deboche aos princípios republicanos. Noutras palavras, os incomodados que se ...

Marcos José Diniz Silva
historiador e professor da Uece
 


Relações perigosas


Como a demonstrar que não têm assuntos relevantes a resolver, nem conteúdos culturais a apresentar em sua TV Fortaleza (televisão oficial da Câmara) além das sessões, os novos vereadores de Fortaleza, inspirados pelo seu presidente, resolveram (15/01/2013) formalizar medida que estabelece o uso dessa TV para a transmissão de missas e cultos religiosos. Para isso, urgentemente formaram comissão técnica. Já testemunhamos a colocação de imagens de santos católicos em diversas praças públicas de Fortaleza, projetos de distribuição de Bíblias nas escolas municipais, a construção da imagem de São Francisco, em Canindé, pelo governo estadual. Nas últimas eleições, foram diversos os candidatos a vereador em Fortaleza com propostas puramente religiosas. A decisão de uso da TV Fortaleza para transmissão de missas e cultos expõe, mais uma vez, a problemática do envolvimento de políticos com denominações religiosas tendo como alvo a máquina do Estado. O resultado é o aparelhamento teológico-político do Parlamento e Poder Executivo, grandemente associados à legitimação política dos devotos sempre ávidos de mais regalias às suas práticas religiosas em troca de abençoados e rentáveis votos. Temos um Estado laico onde as perigosas relações política/religião guardam ambiguidades que ludibriam os cidadãos e desafiam os pesquisadores. Argumentam esses políticos que o Estado é laico, mas não é ateu. Mas ser Estado não ateu é condição para ser Estado laico, pois a laicidade pressupõe a isenção do Estado no patrocínio a qualquer denominação religiosa e a garantia à sua livre prática religiosa.

Marcos José Diniz Silva
historiador e professor da Uece 


Maçonaria



Os caminhos da maçonaria moderna, na era do Absolutismo, estão intimamente ligados à vida política de todos os países onde ela se instalou.
Em suas lojas, os maçons exercitavam a crítica e exerciam um poder burguês indireto, encoberto pelo véu do segredo, na fermentação de uma nova cultura política assentada na separação entre moral (religião) e política na esteira da Ilustração, como o demonstra Koselleck, em Crítica e crise.
Com isso, abalou os dogmatismos e fomentou as revoluções e os regimes liberais entre os séculos XVII e XIX. Mas, foi-se o tempo em que a palavra maçonaria causava arrepios e alimentava a imaginação conspiratória.
Hoje, a maçonaria é objeto de estudo acadêmico e produto rentável da indústria cultural. Filmes, livros, revistas vendem em profusão.
Também é astronômica a quantidade de textos e vídeos na internet, detratando, louvando e analisando os "filhos da viúva".
É claro que ainda resta muita ignorância e preconceito. Porém, crescem as manifestações da sociedade brasileira no sentido da valorização cultural dessa atuante sociedade secreta. Ou, discreta, como querem seus membros. Assim, o carnaval também vai se tornando espaço para a difusão da história e da cultura maçônica.
Em 2008, Grêmio Recreativo Escola de Samba Reino Unido da Liberdade, de Manaus-AM, desfilou com o enredo "Justa e Perfeita, a libertação da negra raça no amazonas".
No carnaval deste ano, será vez da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Paulo, de Santos-SP, com o enredo "Da luz que se difunde, filosofia surgiu no mundo assombrado, a pura maçonaria". Então, abram alas à Maçonaria!

Marcos José Diniz Silva
historiador, professor da Uece 


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