2 de jul. de 2011

Fausto Nilo por entre os tempos da cidade


“Escuto a correria da cidade, que alarde, será que é tão difícil amanhecer?” (Chico Buarque)

A lembrança de nossas origens é, ou talvez seja, o que há de mais importante para o ser humano na condição de projeção da identidade e da vivência do simbólico. Estamos sempre buscando o começo das coisas, não sei se para termos coragem de enfrentar o fim ou se para entendermos o que acontece no durante. A cidade de Quixeramobim, terra mãe do poeta Fausto Nilo, é a fonte de onde ele bebe e extrai a substância que alimenta a música das palavras que o fazem seguir em frente sem esquecer o antes, “Nesse instante, ó terra querida ainda estou procurando por ti/essa felicidade é uma lenda que me faz partir/Pra quem sabe o lugar de onde venho é tão claro onde quero chegar/ no deserto desse mundo novo eu vou te encontrar”. Assim, cantando sua aldeia, Fausto Nilo torna-se universal, criador e criatura, um documento da raça.Graça da mistura.
“É o azul que me atrai minha terra/No deserto do teu coração” como se vê, a nostalgia das origens inconsciente, mas ativa, motivada por uma cor surreal matuta na cabeça do poeta,faz dele ”um beduíno com ouvido de mercador”, e procura bem longe no achado de suas vivências por entre os tempos da cidade descortinar a beleza, a fascinação, o maravilhoso que da voz às palavras e aos silêncios “numa ciranda doce pelo ar”, embarca sem retorno e tudo se faz, de certa forma “criança na lembrança” do poeta-menino, a morada de uma “casa tudo azul’’ - antiga casa e padaria de seu pai - de onde extraiu o pão de sua poesia, “o alto da maravilha”, o “velho rio que não haveremos de esquecer”, o “nunca matar de passarinho”, o voltar sempre de “tardizinha lá nas Marinheiras”, a “ponte”, o “trem”, “o doce não esquece a tamarindo” com gosto das reminiscências da alegre infância onde tudo era festa e dança como num boi de reisado: “haja fogo/haja guerra/haja guerra que há”.
“Com o oriente posto em seu quintal” – Fausto tinha parentes sírio-libaneses- o menino cresce e o vivido naquela época adquire através dos versos do poeta-adolescente o “sabor azul” do beijo sonhado em “Dorothy L'amour”, musa dos tempos de Cine Skeff( Sirio-Libanês de novo) por quem teve uma paixão platônica. A voz se cristaliza no antigo “alto-falante” de Fenelon Câmara que o saúda com “um boa noite cordial”, trazendo na aurora boreal as lembranças de seu dolorido coração, que em outras noites já buscava as emoções de “um amor no pé do muro/ sem ninguém policiar”.
O futuro tal como o passado atrai o poeta-adulto, homem feito, arquiteto do verso, que procura suas raízes, sua identidade. “Quem sabe tudo estará sorrindo quando eu voltar?”, diz no partir, olhando no “retrovisor”, que deixa ver o que ficou pra trás, e mesmo distante desconstruindo os muros sua poesia guiada por uma “uma coisa acesa” questiona nosso caminhar presente,no “apitar da fabrica” que se agiganta e pinta a paisagem da cidade de outro azul, quase cinza, diferente do azul de outrora que encantou o menino e fez dele poeta. E como um Quixote moderno que tem suas pelejas e não foge à luta, Fausto Nilo segue na tentativa de amenizar o caos urbano, e nos mostra nas canções que “bela é uma cidade velha” e que “Felicidade, é uma cidade pequenina.”
 Bruno Paulino

2 comentários:

  1. bruno vc conhece ele/
    ele mora ai ainda?

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  2. Cine Skeff, Um de muitos empreendimentos do meu Tio Miguel Skeff em Quixeramobim sempre a frente do seu tempo! Um Grande Homem Honesto, Trabalhador, Amigo Verdadeiro e Bom Caráter, Coisas difíceis nós dias de Hoje!

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