26 de abr. de 2011

Carta para Manuel Bandeira


sobrado onde morou Manuel Bandeira, atual casa paroquial de quixeramobim
Se eu possuísse algum talento para música, faria questão de compor a valsa que você, Manuel Bandeira, gostaria de ter composto para saudar Quixeramobim, queria com a minha melodia espantar os fantasmas que te atormentavam, grande poeta, em sua pousada no sobrado imponente da atual Casa Paroquial, de onde tu ouvias as batidas do sino de nossa igreja, que lhe soavam como enigmas.

Estimado Manuel Bandeira, esta cidade está dentro de nós, marcada em nosso equilíbrio de observadores. Ela nos segue onde quer que estejamos, e não há como fugirmos dela. Quem dera nossa Quixeramobim fosse hoje tal qual sua Pasárgada e todo mundo fosse amigo do rei. Mas não se engane, grande mestre das palavras, não foi a poesia que se afastou da nossa cidade, mas a realidade social, econômica e socialmente interpretada é que se afastou da poesia por essa terra em que buscavas cura.

Se me faltam talentos para compor valsa, escrever crônicas e falar de poesia, sobram-me saudade e petulância, as saudades não suas, meu caro Bandeira, com quem sempre me encontro nos versos que lhe fizeram imortal. Saudades tenho do Quixeramobim que não cheguei a conhecer e que era fácil o navegar, pois por aqui, como você pode constatar em sua estadia, existia um centro, donde o rio ditava as lições de geografia, e os casarões seculares não estavam ameaçados pelo tal ‘progresso’, hoje não passa de uma fotografia 3x4 triste das grandes cidades.

Mas nem tudo é melancolia, encantar-te-ia saber que o rio agora está cheio, acabando com o deserto que te punha medo. É bem verdade que sobre a velha ponte da estrada de ferro já não passa mais o trem. É que ela agora virou travessia dos sonhos de muitos transeuntes, que em busca do pão diário pelo trabalho, deixam o outro lado do rio e a cruzam em marcha. Esse espetáculo te deslumbraria, saudoso Manuel, acho até que tu escreverias um versinho pra ilustrar a luta desse povo que, como diz a letra do nosso hino, “Deus quer feliz”.

Tu, poeta, vê a cidade, a cidade vê a ti- no tempo presente – assim como ambos já se viram no passado, na vastidão do tempo. A qualidade de seus seres está refletida nos olhos de cada um, mas o que mudou com o passar dos anos?

p.s: Resposta a Crônica de Manuel Bandeira: Saudades de Quixeramobim
Por Bruno Paulino do Nascimento, Graduando em Letras pela Uece-Feclesc





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