Independência
Marcos José Diniz Silva*
Quem não lembra as lições de História na escola em que, especialmente, às vésperas do “7 de setembro”, rememoravam-se os feitos de D. Pedro em seu Grito do Ipiranga, como símbolo de nossa luta pela libertação da opressão de Portugal? Os rasgos patrióticos cuidadosamente tecidos pela historiografia oficial mostravam um Brasil colônia, vitimado por um Portugal explorador de um país que não podia crescer.
Hoje, outra é a interpretação histórica. Em primeiro lugar, porque já é consenso que nossa Independência de Portugal já se dera de fato em 1808, com a abertura dos portos por D. João VI quando aqui chegara com a Família Real ou, melhor, em 1815, quando o Brasil foi proclamado Reino Unido a Portugal e Algarves. Contudo, mais significativo é o reconhecimento pelos estudiosos de que desde o século XVII, sem retrocessos, o Brasil já era uma potencia econômica superior à sua metrópole, distância se agravara com o estabelecimento da corte portuguesa no Brasil, somando-se ao poder econômico uma estrutura administrativa autônoma, embrião de um Estado.
Tudo caminhava, para os brasileiros, rumo à estabilização de um Império lusitano com sede nos trópicos. Quem declara guerra de independência são os portugueses, com o movimento constitucional do Porto, em 1820, queixando-se de sua pobreza e situação de colônia do Brasil. Suas pressões pela volta de toda a família real e as ameaças de um retrocesso colonizador fizeram os brasileiros se articularem e buscarem a adesão de D. Pedro. As transações que seguiram e o Grito do Ipiranga são apenas a espuma na superfície daquele quadro estrutural em que já se apresentava a criatura maior que o criador.
(*) Historiador. Professor da UECE.
(Diário do Nordeste, 7 de setembro de 2012)
Disponível em: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1178550
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