29 de mar. de 2012

A Carta

Viver vale a pena? Estes dias estive pensando no quanto a vida é passageira e no quanto é veloz a sucessão dos dias. Mal eu acordo e já é hora de ir dormir novamente para, na manhã seguinte, começar tudo de novo, toda esta minha rotina sempre tão igual, sempre tão repleta de tantos afazeres. E as pessoas que estão ao meu redor fazem exatamente a mesma coisa que eu: estão sempre lotadas de trabalhos que consomem todo o seu tempo. Então, onde fica o tempo para as amizades, para a família e para o amor? Se mal temos tempo de nos falarmos em nosso dia a dia, como teremos tempo para conversar sobre nossos problemas e angústias com as pessoas que amamos? E acaso temos tempo de dizer que as amamos? Hoje acordei sentindo-me apenas um ser de plástico, vazio de sentimentos e emoções. Estive a pensar que um dia tudo isto acabará e que as pessoas de quem tanto gosto hoje terão simplesmente passado pela minha vida como fumaça ou como névoa. Talvez ainda me restarão alguns álbuns de fotografias velhas para as quais possa olhar e ver todas aquelas pessoas que um dia amei. Então, eu as verei apenas em um papel e isso doerá tanto... Lembrarei dos momentos que poderiam ter sido eternizados, mas que passaram com a velocidade do tempo. E no futuro, terei conquistado todas as minhas ambições e vaidades? Em que posto social estarei eu, então? Será que terei alcançado o respeito das autoridades e o prestígio a que tanto almejei com todo o meu esforço? Provavelmente, terei recebido prêmios e homenagens pela carreira brilhante que consegui construir, mas a quem eu abraçarei de alegria quando receber tais prêmios? Sentir-me-ei sem norte e sem chão se no meu futuro não houver pessoas que eu amo ao meu lado. E é por isso que paro e penso: a existência humana tem sentido? Poderá o homem decidir entre viver ou morrer. Eu decidirei se quero para mim uma vida plena ou esta morte diária chamada cotidiano. Mas apesar de querer viver, vejo o quanto ainda sou mesquinho e o quanto ainda me importo com coisas tão pequenas, quando me julgo ser tão autoconfiante. A não ser que eu não seja tão autoconfiante assim, já que tenho a consciência de minhas falhas, limitações e mediocridades.


Porém, a partir de hoje eu aceitarei o enorme desafio de lutar contra mim mesmo para tentar mudar-me. E como é difícil reconhecer-se falho e decidir transformar para melhor a própria essência. Quero ser mais humilde e menos indiferente, ter menos pressa ao abraçar as pessoas e distribuir mais bons-dias por onde quer que eu passe, pois estas pequenas cordialidades podem mudar tanta coisa. Quero dedicar mais tempo a perdoar do que a pedir perdão e, para isso, terei também que errar menos, já que cada erro meu necessita ser reparado com um pedido de desculpas. Quero não mais ter vergonha de dizer às pessoas que elas são bonitas quando eu realmente achar isso e também quero poder admitir quando alguém for melhor do que eu em algo. Quero não mais apenas pensar nas recompensas materiais conseguidas a partir de minha dedicação, mas principalmente esperar o respeito gratuito que conquistarei a cada dia simplesmente por ser a pessoa que sou. Quero não deixar de amar menos uma pessoa quando ela cometer um erro, pois eu erro todos os dias e sei que nem por isso as pessoas que me amam deixarão de gostar de mim tanto quanto gostavam antes. Quero principalmente ter a maturidade para também aceitar meus próprios erros, pois se eu fosse um ser perfeito não estaria, por exemplo, escrevendo esta carta tão autorreflexiva. Quero tentar pensar não nos aplausos que as pessoas me dariam toda vez que eu fizesse algo brilhante, mas na minha satisfação pessoal em ter alcançado uma meta difícil. Quero não mais recusar um sorvete de creme com passas quando alguém me oferecer um, um passeio ao final da tarde quando alguém me convidar, uma canção quando alguém quiser cantar uma para mim. Quero fracionar o meu dia para que eu possa ter tempo de, vez ou outra, telefonar ou enviar um e-mail para aquele(a) amigo(a) distante, simplesmente para dizer que não esqueci dele(a).

Talvez você esteja se perguntando por que eu entreguei uma cópia desta carta a você. E eu respondo: talvez porque você seja simpático(a) ou educado(a) quando eu passo por você, talvez porque você tenha um sorriso sincero e um olhar tão sincero quanto, talvez porque eu o(a) tenha magoado algumas vezes e esteja usando esta carta como pedido de desculpas, talvez porque simplesmente eu queira desabafar... E entre tantos ‘talvezes’, uma certeza: porque eu quero que você seja uma das pessoas que faz a minha vida valer a pena.


Elton Martins

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