15 de abr. de 2013


O NOVO PAPA E A REABILITAÇÃO DO PADRE CÍCERO E O BRASIL EM DIREÇÃO A UMA TEOCRACIA NOS ARTIGOS DO PROF. MARCOS DINIZ (HISTÓRIA-FECLESC/UECE) 

Processo de reabilitação do Padre Cícero
05.04.2013

A eleição do papa Francisco (Jorge Mário Bergoglio), mesmo sendo o primeiro papa latinoamericano, não deve alterar a suspensão de ordens do Pe. Cícero. Os fatos considerados “milagrosos”, “extraordinários” ou “embuste”, ocorridos em missa na capela de Juazeiro, em março de 1889, envolvendo a beata Maria de Araújo e o Padre Cícero Romão Batista deram ensejo a negociações políticas e religiosas, pressões populares, investigações eclesiásticas e, finamente sua negativa e punição canônica aos envolvidos no caso, especialmente a suspensão das prerrogativas sacerdotais do Pe. Cícero (1894). Embora, as romarias e referências ao suposto milagre da transformação da hóstia em sangue na boca da beata tenham sido proibidas oficialmente pela hierarquia católica, a religiosidade popular foi gradativamente canonizando o Pe. Cícero como milagreiro, ao mesmo tempo em que o respaldava em sua ascensão econômica e liderança política local e estadual. Bastando atentar para o acelerado crescimento populacional e econômico daquele vilarejo, levando-o à emancipação política, e às práticas políticas do líder religioso harmonizadas com o modelo coronelístico e oligárquico vigentes. Assim, ao longo dos anos até sua morte em 1934, consolidou-se a devoção popular ao “Padim” num processo de sua incorporação informal pela ortodoxia católica, que auferiu ao longo de mais de um século de todos os benefícios materiais e simbólicos dessa herança “herética”. Vide doação dos bens do Pe. Cícero aos Salesianos, manutenção e ampliação de irmandades, simbiose da devoção ao “Padim” com os festejos dos santos oficiais até os dias de hoje...Para o povo, em grande parte ignorante dos complexos meandros teológicos, canônicos e institucionais da Igreja católica, o Padre Cícero continua a ser padre, é o Padim, é um santo. Para a Igreja, reabilitá-lo das ordens é oficializar uma rebeldia já explicitada e condenada, inclusive com excomunhão, o que não fará coerente com sua característica de instituição voltada ao monopólio da dispensa dos bens de salvação. A Igreja, hoje adaptada, beneficiária e coordenadora dos festejos e culto à pessoa do Padre, porque refém da poderosa força religiosa e política dessa fé do povo, sem jamais entronizá-lo em seus templos, poderá até beatificá-lo, mas muito dificilmente reabilitá-lo no atual papado, como não o fizeram os dez papas anteriores.
 Marcos José Diniz Silva

Rumo à Teocracia
07.04.2013

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), da Câmara dos Deputados, aprovou a Proposta de Emenda Constitucional (PEC-99/2011), que altera o art. 103 da Constituição, inserindo inciso que dispõe sobre a capacidade postulatória das Associações Religiosas para propor ação de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade de leis ou atos normativos. Ou seja, uma Corte de sacerdotes católicos e evangélicos teria poderes de referendar ou não as leis saídas do Congresso Nacional.
Essa mudança abriria perigoso caminho de submissão da democracia aos ditames teocráticos. Por isso, precisamos atentar para a definição de Teocracia, que podemos encontrar no Dicionário de Política, de Norberto Bobbio. Diz o estudioso: "Com o termo Teocracia designa-se um ordenamento político pelo qual o poder é exercido em nome de uma autoridade divina por homens que se declaram seus representantes na Terra, quando não uma sua encarnação. Bem característica do sistema teocrático é a posição preeminente reconhecida à hierarquia sacerdotal, que direta ou indiretamente controla toda a vida social em seus aspectos sacros e profanos. A subordinação das atividades e dos interesses temporais aos espirituais, justificada pela necessidade de assegurar antes de qualquer outra coisa a salus animarum dos fieis, determina a subordinação do laicato ao clero: a Teocracia. Etimologicamente, isso significa ´Governo de Deus´, que, por sua vez, traduz-se em hierocracia, ou seja, em governo da casta sacerdotal, à qual, por mandato divino, foi confiada a tarefa de prover, tanto a salvação eterna, como o bem-estar material do povo". Frutosdanosos dessa relação inundam a História. 
  Marcos José Diniz Silva
Historiador e professor da Uece 


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